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   Gestos mínimos: poesía brasileña hoy Pedro Granados 
 
 
 
 Encuentro que, aparte de algunos de mis estudiantes en la UNILA (Foz do   Iguaçu), estos son los mejores poetas actuales del Brasil. Minimalismo, pericia   lingüística y sutil humor; atentos a los monemas antes que a las palabras. Los   textos han sido entresacados de Na virada do século. Poesia de invençao no   Brasil (2002), cuyos “organizadores” fueron Claudio Daniel (São Paulo, 1962)   y Frederico Barbosa (Recife, 1961), auto-incluidos en su antología. Sin embargo,   creemos que estos “gestos mínimos” han sobrevivido aquí --son sin duda, entre   los de 46 autores, lo más fresco y vivificante de toda aquella colección-- como   a despecho de sus originales compiladores; sobre todo de uno de ellos. Nos   referimos, en concreto, al encandilamiento por el neobarroco (léase José Kozer)   por parte de Claudio Daniel. Tecnología, este último neo-tramado neo-cubano y   para ex-jóvenes latinoamericanos ociosos, que --ya lo dijimos antes en algún   otro lugar-- fue durante los 90 y los 2000 la autoritaria estética dominante.   Sin embargo, a pesar de nuestros puntuales reparos, felicitamos (de joroba, así   se dice en el Perú cuando llega algo extemporánea) a ambos autores por   permitirnos hallar --como un generoso refresco para este calor que ya se anuncia   en Foz do Iguaçu-- estos olímpicos poemas. 
          
            
              PORNOGRAFÍA
 
 zarpar
 do ziper
 ao zap
 do zoom
 ao zoo
 
 Takeshi Ishihara (São   Paulo, 1970)
 
 
 
 
 INVENTARIO
 
 O   armario
 esconde coisas insuspeitadas:
 sol
 nudez
 tintas
 --esa   coleçao de peças íntimas.
 o armario
 esconde ideogramas
 e sedas   chinesas
 e, num canto escuro,
 uma letra.
 
 Micheliny Verunschk   (Recife, 1972)
 
 
 
 
 EM LIBERDADE
 
 (instantáneo)
 
 Um piscar   de olhos
 Uma ruga
 Um suspiro
 
 Arrepio
 Pulsaçao
 
 --um rol   quase exaustivo
 De gestos mínimos
 
 Ronald Polito (Juiz de Fora,   1961)
 
 
 
 
 PESSOA RUIM
 
 Nunca fui campeão de nada
 Vim pela   rota mais rota
 Fui até a última encruzilhada
 Topei um pacto com o   copeta
 Em troca nunca me faltou caneta
 Sou o escriba do poema em linha   reta
 Tudo que fiz foi levando porrada
 Não escrevo o certo por linhas   tortas
 Escrevo para não ser chamado de poeta
 Escrevo como quem se ri e   espera
 A colisão dos planetas
 O descarrilo do trem
 Escrevo como quem   amaldiçoa almas
 Amém
 
 Ricardo CoronaCuritiba   1962)
 
 
 
 
 MAMÃE GRANDE
 
 todas
 as águas do mundo   são
 Dela, fluem
 refluem nos ritmos
 Dela, tudo que vem,
 que revem,   todas
 as aguas
 do mundo são
 Dela,
 fluem refluem
 nos ritmos   Dela.
 tudo que
 vem, que revém,
 todas as aguas
 do mundo
 são Dela,   fluem
 refluem
 nos ritmos Dela, tudo
 que vem
 que   revem
 
 Ricardo Aleixo (Belo Horizonte, 1960)
 
 
 
 
 NO   SUPERMERCADO
 
 engano
 meu olho vê
 um templo grego
 no código de   barras.
 
 Matias Mariani (São Paulo, 1979)
 
 
 
 O PODER DO   BURBURINHO
 
 As palabras se prestam
 a múltiplos fins
 
 Cravo-as com   força
 na mudez do tempo
 
 Umas, em ruínas
 murmuram   inaudíveis
 
 Outras vão além e
 à beira-chuva –
 
 por brancura   –
 morrem comigo
 
 Comigo more
 a tagarelice
 
 Jorge Lucio de   Campos (Rio de Janeiro, 1958)
 
 
 
 
 ARTE POÉTICA
 
 na serra da   desordem
 no piracambu tapiri
 em cada igarapé do pindaré
 em cada igarapé   do gurupi
 existe uma palabra
 uma palabra nova para mim
 
 Antonio   Risério (Salvador, 1953)
 
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